Está certo que sempre comentando dos riscos de novas epidemias, globais ou não, e que essas parecem cada vez mais frequentes que no passado. Se antes demorávamos décadas para ver surgir um novo agente, um novo vírus, mais recentemente a ciência trabalha com a estimativa de uma década para essas infecções emergentes ou reemergentes.
E essa aceleração tem sido muito determinada pela ação humana, dita ação antrópica. Isso ocorre quando o homem invade e modifica biomas naturais, ou quando o homem acelera as mudanças climáticas, por exemplo.
Mas, recentemente, vimos um alarde na mídia sobre uma nova pneumonia que atacava as crianças em fase escolar na China, agora, mal terminada a pandemia da Covid-19. Será? Do que se trata, afinal?
Pneumonia bacteriana e o pós-epidemia
Há algumas semanas, a China relatava um surto de uma possível “nova” pneumonia em crianças e que muitos dos casos documentados nas escolas – onde houve inclusive fechamento – estava associado à bactéria Mycoplasma pneumoniae. Essa uma “velha conhecida” da medicina e muito associada às crianças.
Pelo menos 10 países no mundo relataram um aumento de infecções pela bactéria neste ano que termina. Em todos esses países, as crianças também são as principais afetadas. Apesar da preocupação aparente e o alarde em muitos veículos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma, opinião compartilhada por esse especialista, que se trata de um fenômeno esperado para um período pós-pandemia. Não há nenhum novo agente patogênico associado a esses surtos.
Situações semelhantes vimos em outros períodos imediatos às pandemias, quando submetemos pessoas a períodos de isolamento social como estratégia de prevenção. Tivemos medidas restritivas importantes nesse período de Covid-19 e que fizeram com que muitos dos vírus e bactérias que são transmitidos pelo ar parassem de circular.
Outros agentes “perderam” a competição para o novo coronavírus. Agora alguns desses voltaram e encontram muitas pessoas suscetíveis, em especial crianças, que ficaram isoladas devido ao fechamento das escolas.
Portanto, não se trata de um novo vírus, nem uma nova bactéria, mas o reaparecimento de antigos germes que conhecemos e que devemos de mais a mais ficar alertas para o seu diagnóstico.
Censo e envelhecimento
Havia comentado na coluna anterior sobre dados do novo censo da população. O Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou o envelhecimento populacional do país. Entre 2010 e 2022, foi registrado o maior salto de envelhecimento. Em 2010, a cada 30 idosos (com 65 anos ou mais), o país tinha 100 jovens de até 14 anos.
Agora, são 55 idosos para cada 100 jovens. O número de idosos com 100 anos ou mais saltou de 22 mil, em 2010, para cerca de 38 mil em 2022. Um crescimento de 67% do total de centenários em pouco mais de uma década no país.
E você sabe qual o Estado com maior número de centenários? Errou se pensou no Rio Grande do Sul ou mesmo qualquer Estado da Região Sul. A Bahia é o que tem o maior número deles. Mais de 5 mil pessoas com 100 anos ou mais moram lá. Mas isso, em verdade, não é novidade.
Os números mantêm a tendência de 2010, quando esse Estado já concentrava o maior número de centenários do país, com cerca de 3 mil habitantes de 100 anos ou mais.
Oxe! por que a Bahia?
Como muitas vezes descrevemos aqui, a regra para a longevidade deve envolver hábitos saudáveis, como praticar atividade física regular, manter uma alimentação adequada e evitar o consumo de bebidas alcoólicas e cigarros.
Mas também a resiliência ao inevitável estresse pode ser fortalecida por uma boa rede social. Mas como opina o Dr. Mauricio Wajngarten, cardiogeriatra do Instituto do Coração de SP, dois fatores menos “tradicionais” podem contribuir para o aumento da longevidade da população baiana: a espiritualidade e a segurança pública.
A espiritualidade na Bahia é apontada como um dos fatores que podem ter colocado o Estado no alto patamar de envelhecimento. Estudos feitos em Veranópolis (RS), também apontam a espiritualidade como contribuinte da longevidade. Ela contribui para a manutenção da saúde, pois auxilia na adoção de um estilo de vida saudável, na maior socialização e na resiliência ao estresse, com implicações biológicas, descreve o Dr. Wajngarten.
Segurança e os reflexos
A importância desse fator pode ser destacada pelos dados da pacata Abaíra, no centro da Chapada Diamantina, cidade com a maior taxa de envelhecimento na Bahia. O município ficou conhecido por passar oito anos sem homicídios.
De acordo com Mariana Viveiros, supervisora de Disseminação de Informações do IBGE, a segurança pública é um dos fatores que mais interferem no aumento do índice de envelhecimento nas cidades brasileiras. São dados que devemos melhor estudar em pesquisas, tanto qualitativas quanto quantitativas.